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A pobreza do Filho de Deus no mistério da Encarnação o Natal de Greccio

21/12/2020
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A pobreza do Filho de Deus no mistério da Encarnação o Natal de Greccio
 Francisco de Assis fez do Evangelho de Jesus Cristo um programa de vida, quando, no momento culminante de um longo processo de conversão, exclamou cheio de contentamento na igrejinha da Porciúncula: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 22). Assim, colocando-se por inteiro no seguimento de Cristo que fala a partir do Evangelho, o Poverello de Assis deixou-nos como herança a essência da sua mística e que forma a tríade da espiritualidade franciscana: a pobreza do Filho de Deus no mistério da Encarnação; o amor pleno do Filho de Deus na Paixão e na Cruz; e a humildade do Filho de Deus na sua presença diária no mistério da Eucaristia.
Aqui partilho brevemente o primeiro aspecto da tríade da espiritualidade franciscana: a Pobreza do Filho de Deus no mistério da Encarnação.

1. O encantamento pela humanidade de Jesus

Francisco de Assis, após anos de intensa busca e vivência encarnada do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, encantou-se pela humanidade do Filho de Deus que tão primorosamente foi descrita por Frei Tomás de Celano, o primeiro biógrafo do Santo de Assis: “Celebrava com inefável alegria, mais do que as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, afirmando que é a festa das festas, em que Deus, tornando-se criança, dependeu de peitos humanos” (2Cel 199,1).

2. A preparação necessária para a grandeza da festa
Em 1223 Francisco de Assis viveu por alguns meses no Vale do Rieti. Destaco três motivos da sua estadia nos quatro lugares ermos de Rieti: 1º) Trabalhou com seu secretário na elaboração definitiva da Regra dos Frades Menores na gruta do santuário de Fonte Colombo; 2º) Cuidou e tratou da doença adquirida nos olhos, inclusive com a cauterização do nervo ótico, hospedando-se em La Foresta e Fonte Colombo; 3º) Procurou observar o que ele mesmo prescreveu na Regra: os frades “jejuem desde a festa de todos os santos até o Natal do Senhor” (RB 3,6).

Assim, a partir da festa de todos os santos, Francisco fez sua “quaresma do Natal”, ou seja, viveu penitencialmente o que nós hoje chamamos de Tempo do Advento. É provável que ele tenha passado aquela quaresma no eremitério de Poggio Bustoni (montanha defronte ao povoado de Creccio), pois uma das narrativas biográficas afirma que o próprio Francisco revela às pessoas daquele povoado que ele não era tão santo como o consideravam. E complementa afirmando que durante a sua enfermidade e “por ocasião da quaresma do Natal do Senhor, comeu alimentos condimentados com banha” (2Cel 131,2).
Já próximo da festa do Natal, o mesmo Biógrafo afirma: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo o santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina e imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo o empenho, com todo o desejo da mente e com todo o fervor do coração. Recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras dele. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão” (1Cel 84, 1-3). E ainda: Para que este dia festivo tivesse mais sentido e sabor, depois de uma quaresma de jejum e penitência, chamou o senhor João, um nobre homem do povoado de Greccio, com esta recomendação: “Se desejas que celebremos em Greccio a presente festividade do Senhor, apressa-te e prepara diligentemente as coisas que te digo. Pois quero celebrar a memoria daquele menino que nasceu em Belém e ver de algum modo com os olhos corporais os apuros e necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio e como, estando presente o boi e o burro, foi colocado sobre o feno” (1Cel 84, 7-8)

3. A festa da Encarnação no Natal de Greccio
Os biógrafos de São Francisco narram com detalhes a noite do grandioso Natal de Greccio de 1223. Frei Tomás de Celano faz uma introdução magnífica à solenidade da festa: “E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo da exultação”. Quando tudo estava pronto, “veio o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se” (1Cel 85). Assim iniciaram a grandiosa festa numa gruta de animais, encravada no paredão rochoso, não distante do povoado de Greccio. Naquela noite rompeu-se o silêncio que reinava no bosque com o fervor dos cânticos. Lá estavam o boi, o burro, o feno, os frades, as pessoas do povoado, o bosque, a noite iluminada, as tochas e o Evangelho que, proclamado por Francisco, mais uma vez se fez Palavra encarnada: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

4. Os ecos do Mistério da Encarnação celebrado em Greccio
Todas as narrativas da estadia de São Francisco no eremitério de Greccio possuem traços comuns, mas são ricas nos detalhes e nas interpretações dos biógrafos. Felizmente a distância cronológica de quase VIII séculos não apagou o esplendor daquela intuição originária de Francisco de Assis e que hoje se perpetua na interpretação e na criatividade dos artistas do mundo inteiro.

• O Natal de Greccio e os presépios.
O primeiro presépio criado por Francisco na gruta do bosque de Greccio se prolonga na história. Os presépios congregam povos e nações, raças e culturas que se deixam guiar pela Estrela que a todos conduz ao fascínio do mistério na gruta de Belém.
• O Natal passa pelo olhar (“ver”): Francisco de Assis quer “ver” com os olhos carnais a manifestação da humanidade do Filho de Deus para celebrar com o ocular da fé a pobreza e o despojamento do Filho de Deus (Menino Jesus, envolto em panos);

• O Natal é a festa da fartura: Francisco interrompe seu jejum na solenidade da festa do Natal e fala em fartura de alimentos, pensando nos pobres que vivem em permanente jejum. Queria que neste dia os pobres e famintos fossem saciados, que se esfregasse carne nas paredes e se desse ração à vontade aos pássaros, às abelhas e aos animais. Se Belém significa “casa do pão”, esta mesma “Belém-Greccio” se estende a todos os lugares onde o Natal significa partilha e comunhão, porque o Menino de Belém se fez Pão da Vida, se fez Eucaristia.

• O Natal é festa da confraternização cósmica: No Salmo do Natal composto por São Francisco para o Ofício da Paixão do Senhor, ele convida os céus e a terra e tudo o que eles encerram a cantar um canto novo “porque um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós no caminho e foi colocado no presépio” (OP 15,7).

• O Natal desperta o Menino adormecido: Frei Tomás de Celano narra que naquela noite um homem de Greccio teve a visão de uma criança deitada e adormecida no presépio. Quando Francisco se aproximou, o menino acordou de um sono profundo. Tudo isto para dizer que “Jesus tinha sido relegado ao esquecimento no coração de muitos” (1Cel 86), mas neles ele ressuscitou por graça de Francisco. Natal sem o Menino de Belém não é Natal.

“O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços” (Papa Francisco, Admirabilis Signum, 8).
(Frei Fidêncio Vanboemmel)

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