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Estudo da USF com o Butantan aponta que molécula modificada de merluza pode combater Alzheimer

09/11/2023
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Estudo da USF com o Butantan aponta que molécula modificada de merluza pode combater Alzheimer

Uma parceria entre o Instituto Butantan e a Universidade São Francisco (USF) resultou no desenvolvimento de um peptídeo que pode se tornar um aliado no tratamento do Alzheimer, conforme estudo publicado na Frontiers in Pharmacology, realizado pela aluna de mestrado Renata Boldin, pelo PPG Ciências da Saúde, da USF e da UNIFAG. Modificada em laboratório a partir de uma proteína encontrada na merluza (Merluccius productus), a molécula inibiu a principal enzima que causa a doença, a BACE-1. O Alzheimer representa 70% dos casos de demência no mundo, com 40 milhões pessoas acometidas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A demência é a sétima principal causa de morte.

Um dos diferenciais do peptídeo é que ele foi capaz de chegar ao cérebro de modelos animais. Nos testes in vitro com neurônios afetados pelo Alzheimer, a substância bloqueou a atividade da enzima BACE-1. “Com isso, o peptídeo reduziu a quantidade de beta-amiloides, proteínas tóxicas responsáveis pela doença, mostrando-se um bom candidato para tratamento”, afirma a bióloga Juliana Mozer Sciani, orientadora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Toxinologia do Butantan e pesquisadora da Universidade São Francisco, pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Saúde. "Parecerias com instituições consolidadas, no cenário nacional e internacional de pesquisa, como o Butantan, demonstram o importante papel da USF na pesquisa brasileira e sua integração com a sociedade, cumprindo assim sua missão como universidade", afirmou o Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão, professor Dilnei Lorenzi.

Juliana, que trabalha com substâncias de animais marinhos há mais de 10 anos, coordenou o trabalho e foi responsável por fazer diversas modificações na sequência do peptídeo e simulações, utilizando ferramentas de bioinformática, até chegar à versão com maior potencial contra a BACE-1. A proteína original do peixe foi descoberta por pesquisadores da Ásia em 2019 e sua sequência foi disponibilizada em banco de dados.

O novo peptídeo desenvolvido demonstrou alta estabilidade e possibilidade de chegar ao alvo. Também se mostrou seguro e sem toxicidade, de acordo com ensaios em animais saudáveis feitos no Butantan pelos pesquisadores Bianca Cestari Zychar, responsável pela plataforma multiusuário de Microscopia Intravital, e Luís Roberto Gonçalves, diretor do Laboratório de Fisiopatologia.

Nos modelos animais, duas horas após sua administração, o composto chegou ao cérebro. Ele passou pelo pulmão, pâncreas, baço e fígado (onde foi metabolizado), mas não se acumulou em nenhum órgão: depois de seis horas, se concentrou no rim para ser eliminado pela urina. Todos os órgãos ficaram intactos e sem sinal de inflamação ou danos nas células.

“Esse estudo, chamado de farmacocinética, mostra como a substância se desloca no organismo. Por que tomamos alguns remédios de 6 em 6 horas, e outros de 12 em 12, por exemplo? Porque foi feita uma análise de como o fármaco se distribui no corpo, para saber quanto tempo leva para ter a ação e quanto tempo ele demora para sair”, explica Bianca.

Conhecendo o comportamento do peptídeo em um organismo vivo e sua ação nos neurônios, os cientistas agora irão testá-lo como um tratamento em modelos animais com a doença de Alzheimer para avaliar a sua eficácia.

Ainda há um longo caminho até que o composto possa ser testado em pacientes e transformado em um produto, mas o peptídeo possui uma série de vantagens em relação a outros semelhantes já descritos. Além de ser estável e conseguir agir durante horas, ele é um inibidor reversível

“Isso significa que ele ‘liga e desliga’ a enzima, enquanto outros a bloqueiam completamente. A inibição total pode causar efeitos adversos, já que essa enzima também tem um papel fisiológico na neuromodulação”, destaca Juliana.

Hoje, existem dois grupos de medicamentos aprovados para tratar o Alzheimer, que ajudam a aumentar a expectativa de vida e amenizar sintomas, mas não curam. Eles provocam uma série de efeitos adversos, como náuseas, diarreia, alergia, perda de apetite, dor de cabeça, confusão, tontura e quedas, segundo o Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA) dos Estados Unidos.

Compostos de água-viva e anêmona já mostraram ação contra a doença

A bióloga Juliana Mozer já descreveu outras substâncias extraídas da fauna marinha que apresentaram potencial contra doenças neurodegenerativas em trabalhos feitos em colaboração com o Butantan, com as pesquisadoras Vanessa Zambelli e Gisele Picolo, do Laboratório de Dor e Sinalização, e o então pós-doutorando Hugo Vigerelli, do Laboratório de Genética, hoje especialista de laboratório.

Em 2021, os cientistas identificaram compostos da água-viva que melhoram a conexão entre os neurônios. Eles aumentam os neuritos das células neuronais, facilitando a conexão entre elas.

Em outro estudo, publicado em 2022, foram descobertas moléculas na anêmona do mar capazes de reduzir a atividade de uma enzima relacionada à neuroinflamação, a catepsina B. Outro composto da água-viva bloqueou a caspase-1, proteína também importante no desenvolvimento de neuroinflamação do Alzheimer.

“Venenos e secreções animais, inclusive os marinhos, são ricos em peptídeos bioativos, representando um grupo bem sucedido de moléculas com alto potencial e que raramente são estudadas e exploradas do ponto de vista farmacológico”, aponta o novo artigo.

Fonte: Portal Butantan

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