Cada ponto de uma caminhada representa um marco que pode interferir no futuro ou ser referência para decisões no presente. Compreendemos a realidade de um povo olhando para o passado. Nesse sentido, a história nos fornece as ferramentas para interpretar o presente, revelando como eventos passados moldaram as sociedades, culturas e instituições. Quando olhamos para os acontecimentos passados, temos condições de compreender a identidade, tendo como canal as memórias, que são fundamentais para o fortalecimento de uma sociedade mais consciente.
Pensando na importância da preservação da história e da memória, foi colocado em prática, neste ano em que a Província da Imaculada Conceição do Brasil celebra o Jubileu de 350 anos, um projeto de levantamento de todos os acervos históricos dessa grande fraternidade, presente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e também em Angola, onde realiza um importante trabalho missionário.
O tema já vinha sendo debatido entre os frades, mas, no último Capítulo, realizado em 2024, por solicitação do Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, os trabalhos foram efetivamente iniciados neste ano pela Comissão do Centro de Pesquisa e Referência Cultural da Imaculada (CEPRI). Compõem o grupo: Frei Gilberto da Silva, coordenador; Frei Alvaci Mendes da Luz, vice-coordenador; e Frei Roger Brunório, que assumiram a missão de cuidar e catalogar o patrimônio artístico, cultural, histórico e bibliográfico da Província.
Para a execução do projeto, os frades contam com a participação das pesquisadoras do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação da Universidade São Francisco (CDAPH-USF): Maria Cecília Machado Faustino, conservadora-restauradora (IFMG/FAOP), coordenadora dos trabalhos e doutoranda em Educação (USF); Carolina Izidoro Roncato, arquivista da UNESP; e Jéssica Freitas Oliveira, conservadora-restauradora do IFMG/FAOP.
Entre os dias 22 e 25 de abril, as pesquisadoras estiveram na sede da Província para iniciar o levantamento, catalogação e verificação das condições dos documentos disponíveis, guardados nos arquivos e preservados pela arquivista Elisabete Barbero.
“Faremos um levantamento em todas as fraternidades, casas, conventos e paróquias, bem como nas casas de formação onde atuamos, para que possamos conhecer melhor nossos bens culturais, históricos, documentais, entre outros patrimônios históricos que fazem parte da nossa história”, explicou Frei Alvaci.
Segundo ele, o objetivo é finalizar a primeira etapa do projeto até o próximo Capítulo Provincial, em 2027, ao menos no que se refere à relação e às condições do patrimônio existente. “Isso inclui também um trabalho futuro, de médio e longo prazo, para o levantamento das obras produzidas pelos confrades, desde os já falecidos até os artistas da atualidade. Veremos todas as produções, como as do Frei Geraldo Roderfeld, Frei Beto Coelho e, na atualidade, Frei Pedro Pinheiro e Frei Benedito Geraldo Gomes Gonçalves (Frei Dito). ”
O frade explicou que a importância desse projeto para a história está vinculada à intenção de fortalecer uma consciência entre os frades do valor que essa documentação tem, não só para a Província, mas para a sociedade como um todo. “Queremos evidenciar ainda mais a relevância que o franciscanismo tem e teve no contexto nacional, regional e local. É importante para os frades da Província conhecerem o patrimônio que têm e também abrirmos esse espaço de pesquisa de forma mais organizada e sistematizada.”
O Centro de Pesquisa e Referência Cultura da Imaculada ficará hospedado no sistema de gerenciamento de arquivos da USF, em Bragança Paulista (SP), onde também está o CDAPH.
Sobre a participação do CDAPH e a equipe de pesquisadoras
De acordo com a pesquisadora Maria Cecília, o Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação da Universidade São Francisco constitui um espaço de referência em pesquisas com ênfase na história local e regional, memória franciscana e memória institucional, que possibilita, de maneira mais ampla, pesquisas no âmbito da história e da história da educação.
Dado o perfil e a natureza de seu acervo, o CDAPH implementa atividades voltadas à identificação, coleta, preservação, tratamento e difusão de acervos de natureza arquivística e bibliográfica. Entre as iniciativas possibilitadas pelo acervo, destacam-se as visitas monitoradas e as pesquisas orientadas a partir da análise de fontes primárias, no contexto das atividades de ensino, pesquisa e extensão, acolhendo também demandas do público em geral.
Dentre as iniciativas promovidas, destacam-se as visitas monitoradas, cursos e eventos que visam ampliar e garantir o acesso e a divulgação do conhecimento produzido no universo acadêmico junto à sociedade em geral; bem como a participação em iniciativas de preservação do patrimônio histórico e cultural. Tais ações buscam construir interfaces com ações afirmativas ancoradas no reconhecimento da diversidade cultural brasileira e na necessária democratização do acesso à informação por distintos grupos sociais.
A pesquisadora e coordenadora da equipe considera a atuação da equipe técnica do CDAPH junto ao CEPRI relevante por propor a ressignificação dos acervos da Província, historicamente dispersos. “Mais do que preservar documentos, o projeto reconhece esses acervos como patrimônio cultural dinâmico, capaz de gerar novos sentidos no presente. Ao sistematizá-los, pretendemos ampliar suas possibilidades de apropriação social, educativa e científica, fortalecendo uma memória coletiva crítica. Enquanto pesquisadora que atua com acervos e na formação em Educação, vejo neste trabalho a articulação entre preservação e ressignificação crítica, em sintonia com os princípios que orientam minha trajetória acadêmica e profissional”, afirmou Cecília.
“Participar deste projeto significa ter a oportunidade de contribuir para a organização e preservação de um arquivo histórico de grande importância para a memória da Província Franciscana. O que mais me chama atenção é a possibilidade de colaborar com uma equipe dedicada à memória e à história, e a certeza de que meu trabalho, de certa forma, está contribuindo para a preservação deste patrimônio cultural”, salientou a arquivista Carolina.
Já a restauradora Jéssica acredita na importância da valorização da memória e da história. “Acho que o que mais chama a atenção é a preservação da história e da memória. Há um profundo respeito pelo objeto em si e pela informação que ele carrega. Livros e documentos são portadores da história da humanidade, do conhecimento acumulado, das ideias, das culturas e das experiências passadas. Este trabalho garante que essa memória não se perca com o tempo, permitindo que as futuras gerações tenham acesso ao seu legado cultural e intelectual.”
Segundo ela, é extremamente satisfatório poder contribuir para a salvaguarda do patrimônio cultural da Província, considerado de valor inestimável. “A conservação e restauração promovem a proteção desses bens, evitando sua deterioração e desaparecimento, ao mesmo tempo em que permitem que o passado dialogue com o presente e inspire o futuro. Esse trabalho também promove o acesso à informação e ao conhecimento, beneficiando pesquisadores, estudantes e o público em geral.”