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Pastoral Universitária

FRANCISCO DE ASSIS E O SULTÃO - 10

30/09/2019
O QUE É LENDA NO ENCONTRO DE FRANCISCO COM O SULTÃO

Narra São Boaventura: “No décimo terceiro ano de sua conversão, dirigindo-se a regiões da Síria, expôs-se constantemente a muitos peritos para poder ir à presença do sultão da Babilônia. Entre cristãos e sarracenos havia uma guerra tão implacável – estando os acampamentos dos exércitos postados aqui e ali no campo, um diante e perto de outro - que o caminho de mútuo trânsito não estava livre sem perigo de morte. De fato, emanara do sultão um edito cruel de que todo aquele que trouxesse a cabeça de algum cristão receberia um bizâncio de ouro como recompensa. E Francisco, intrépido cavaleiro de Cristo, esperando em breve alcançar seu propósito, decidiu tomar o caminho, não amedrontado pelo pavor da morte, mas provocado pelo desejo dela. Tendo feito antes uma oração, confortado pelo Senhor, ele cantava com confiança aquela palavra do profeta: Se eu ando no meio da sombra da morte, não temerei os males, porque estás comigo (Sl 22,4).

Portanto, tendo tomado como companheiro o irmão de nome Iluminado, homem realmente de luz e de virtude, depois que iniciaram a viagem, encontraram duas ovelhinhas; alegrando-se por tê-las visto, o santo homem disse ao companheiro: Confia no Senhor, irmão, pois em nós se cumpre aquela palavra do Evangelho: Eis que vos envio como ovelhas em meio de lobos. E como tivessem andado mais longe, vieram ao encontro deles os guardas do sarraceno, os quais como lobos correm contra as ovelhas, os pegaram com crueldade e desprezo, infligindo-lhes insultos, atormentando-os com açoites e prendendo-os com cadeias. Finalmente, conduziram-os ao sultão multiplamente infligidos e maltratados, por disposição da divina providência, de acordo com o desejo do homem de Deus. Então, como aquele príncipe perguntasse por quem, a que e como foram enviados e de que modo tinham chegado, Francisco, o servo de Cristo, respondeu que tinha sido enviado não por homem, mas pelo Deus altíssimo, para mostrar a ele e a seu povo a via da salvação e anunciar-lhes o Evangelho da verdade. E pregou ao predito sultão com tanta firmeza da alma, com tanta virtude de ânimo e com tanto fervor de espírito o Deus Trino e Uno e Jesus Cristo Salvador que ficava claro que nele se cumpria verazmente aquela palavra do Evangelho: Dar-vos-ei boca e sabedoria a que não poderão resistir todos os vossos inimigos. E o sultão, vendo no homem de Deus o admirável fervor de espírito e a virtude, ouvia-o com prazer e convidava-o com insistência a morar com ele. E o servo de Cristo, iluminado por um oráculo do alto, disse: “Se queres converter-te, tu com teu povo, a Cristo, por amor a ele morarei convosco de muita boa vontade. Se ainda hesitas deixar a lei de Maomé pela fé em Cristo, manda que seja aceso um grande fogo, e eu entrarei nele com teus sacerdotes, para que assim reconheças qual a fé deve ser com razão considerada mais certa e mais santa”. Disse-lhe o sultão: “Não creio que algum dos meus sacerdotes queira expor-se ao fogo para defender sua fé ou padecer alguma espécie de tormento. De fato, ele vira que um de seus presbíteros, homem autêntico e ancião, tendo ouvido isto, imediatamente fugiu da presença deles. Disse-lhe o santo homem: “Entrarei sozinho no fogo, se queres prometer-me por ti e por teu povo, que vos convertereis a Cristo, se eu sair ileso dele; e seu eu for queimado, seja imputado meus pecados; mas se a virtude divina me proteger, reconhecereis o Cristo, poder e sabedoria de Deus, verdadeiro Deus e Senhor Salvador de todos. E o sultão respondeu que não ousava fazer esta opção porque temia uma revolta de seu povo. Ofereceu-lhe, no entanto, muitos presentes preciosos que o homem de Deus, ávido não das coisas mundanas, mas da salvação das almas, desprezou todos como lama. O sultão, vendo o santo homem tão perfeito desprezador das coisas do mundo, movido de admiração, concebeu maior devoção para com ele. E embora não quisesse passar à fé cristã, ou talvez não o ousasse, no entanto, rogou devotamente ao servo de Cristo que aceitasse os preditos presentes, para dá-los aos cristãos pobres ou as igrejas pela salvação de sua alma” (LM IX 7-8).

O texto de São Boaventura tem a finalidade de mostrar um Francisco de Assis desejoso de testemunhar Cristo e narra sob a sua ótica o modo religioso do encontro. O que acontece realmente é que mais do que pregação os dois pedem a Iluminação do coração e não a conversão a uma determinada religião. Há pontos comuns em Deus, Jesus e Maomé. Narradores cristãos de ontem e de hoje não compactuam desta verdade e tiram conclusões. No Alcorão temos escrito: “E não disputeis com os adeptos do Livro, senão da melhor forma, exceto com os injustos, dentre eles. Dizei-lhes: Cremos no que nos foi revelado, assim como no que vos foi revelado antes; nosso Allah e o Vosso são Um e a Ele nos submetemos”.(Cor 29,46). “E depois deles, os profetas, enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Tora que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho que encerra orientação e luz, corroborante do que foi Revelado na Tora e exortação aos tementes “ (Cor 5, 46). Para um muçulmano, o Cristianismo é uma religião divina e para nós, cristãos, pensamos o mesmo do Islamismo? É preciso pedir os caminhos seguros do espírito! “Guia-nos à senda reta! (Cor 1,6). Francisco e o Sultão estão na mesma busca do reto caminho. O sultão não condena Francisco pela convicção de sua fé, antes o admira.

Mesmo, quando os biógrafos inventam motivações de que os presentes oferecidos são para subornar Francisco, o fato é que são gestos de reverência e amizade. Entrega para que o outro possa dividir. Em todas as experiências religiosas existem preocupações com os que não têm. Tanto no culto cristão como no culto muçulmano há ofertas redistribuídas aos necessitados.

A proposta do Ordálio, a prova de fogo, é uma lenda, um relato metafórico para mostrar que ao falar de Deus não tem como deixar-se queimar pelo seu fogo. O relato de Boaventura é escrito 40 anos depois do fato. Frei Iluminado estava vivo ainda, em 1260, quando este texto foi escrito. Frei Iluminado morreu em 1266. Francisco jamais provocaria Deus com fogueiras. Quanto ao bizante de ouro também não é verdade que tenha sido oferecido como recompensa. Faz parte de relatos lendários que brotam das provocações guerreiras. O que precisamos reabilitar na memória coletiva é que Francisco não teve a sua cabeça a prêmio. Al-Malek Al-Khamil, de um modo cortês, trata bem Francisco no mais alto nível de um homem que respeita a fé de outro homem. Diz o Corão: “Convoca os humanos à senda do teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente, porque o teu Senhor é o mais conhecedor de quem se desvia de Sua senda, assim como é o mais conhecedor dos Encaminhados” (Cor 16,125).

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FREI VITORIO MAZZUCO


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FREI VITORIO MAZZUCO
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