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Reitor da USF participa de entrevista para Revista Comunicações

06/12/2016
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Reitor da USF participa de entrevista para Revista Comunicações
Confira na íntegra a entrevista do Reitor da USF, Prof. Joel Alves de Sousa Júnior, para a revista Comunicações da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

Entrevista a Moacir Beggo

O DESAFIO DE SER E SE MANTER COMO UNIVERSIDADE

O Reitor da Universidade São Francisco, professor Joel Alves de Sousa Junior, ainda não completou o segundo ano à frente da entidade, mas sua história de vida se confunde com a história da USF, que neste ano celebra 40 anos de fundação. Há 30 anos, seus dois filhos eram crianças quando ele iniciava a longa carreira acadêmica na USF. Hoje, avô de cinco netos, tem a missão de semear esperança no cenário educacional brasileiro, especialmente o universitário. “Sendo reitor de uma Universidade Comunitária, confessional e privada, penso que o maior desafio é ser e se manter como Universidade”, confessa o Professor e Reitor Joel.

Nesta entrevista, o Reitor que está à frente de 11.625 alunos, 667 professores e 652 funcionários técnico-administrativos, pede e alerta para o compromisso com o ensino fundamental e médio, um verdadeiro pacto de estado e não apenas de governantes de ocasião, para salvar a educação no país.

Comunicações – Quais as suas expectativas para a USF no ano em que ela celebra 40 anos de fundação?
Professor Joel – Formalmente, a USF é reconhecida como instituição comunitária e confessional, com identidade franciscana, com significativa importância para os municípios de Bragança e Itatiba, e não apenas pela educação superior de qualidade que proporciona, mas também pela constante interação com as comunidades desses municípios, prestando contribuição relevantíssima em diversas áreas, em especial na saúde pública. No município de Campinas, onde temos duas unidades, as mais novas da Instituição – sendo uma delas, a do Cambuí, com apenas cinco anos – estamos num processo de consolidar nossa presença junto à comunidade campineira. Hoje, nossa expectativa é que a USF consolide sua presença e influência junto às comunidades de toda a região bragantina, bem como dos municípios circundantes a Itatiba e o município de Campinas, não apenas trazendo para seus campi as pessoas dessas localidades para terem formação superior de qualidade, mas interagindo com as comunidades dessas regiões ampliadas, de maneira efetiva e produzindo significativas melhorias sociais.

Comunicações - A USF tem quantos alunos, professores e funcionários?
Professor Joel - A USF conta hoje com 11.625 alunos, 667 professores e 652 funcionários técnico-administrativos.

Comunicações - Há projetos de expansão da USF no interior de São Paulo? Os campi são suficientes para atender a demanda da região?
Professor Joel - Ao menos neste momento não há projetos de expansão da USF para outros municípios do Estado de São Paulo ou de outro. Não significa que no futuro isso não possa ocorrer. Atualmente, os campi são suficientes para atender a demanda das regiões onde a USF atua.

Comunicações - Quais são os desafios da USF nos próximos anos?
Professor Joel - Certamente, o nosso maior desafio se relaciona ao nosso maior objetivo como instituição educacional, ou seja, continuar possibilitando que o “Aluno USF” tenha uma educação superior integral e que seja um ser humano completo, não apenas para ter um projeto profissional, mas sim um projeto de vida; um ser humano sábio e criativo, aberto ao novo e com facilidade de se desapegar de concepções assumidas – muitas delas irrefletidamente – para que possa formular novas reflexões, que tenham como princípios norteadores a bondade, a cordialidade, a fraternidade e a paz. Podemos, como instituição, até fazer algum prognóstico sobre quais serão as profissões ou carreiras mais interessantes quando a USF completar 80 anos – futuro distante, separado de nós por um período em que as inovações tecnológicas se desenvolverão em progressão geométrica – de maneira que tal prognóstico provavelmente não passará de mera especulação. Porém, sejam quais forem as profissões ou carreiras do futuro, certamente elas não prescindirão dos elementos que norteiam a educação propiciada pela Universidade São Francisco.

Comunicações - Que contribuição o carisma franciscano pode oferecer para o ensino universitário?
Professor Joel - De certa forma, na resposta anterior adiantei alguns elementos que respondem a esta pergunta. O ensino universitário, alicerçado pelo carisma e pela cosmovisão franciscana, contribui para que o egresso da USF seja uma pessoa ética e com valores que possibilitem um diálogo amigável com a sociedade e com outros indivíduos. E isso não porque seja “politicamente correto”, e sim porque a educação proporcionada pela USF está pautada pelo respeito à integralidade humana, preocupada com os aspectos intelectuais, morais, afetivos, culturais, espirituais, dentre outros.

Comunicações - Como o sr. vê a expansão brasileira do sistema de ensino superior nos últimos anos? Ela veio acompanhada da qualidade necessária?
Professor Joel - A expansão do ensino superior nos últimos anos ocorreu em maior parte no setor privado, em especial com a formação, no território nacional, de grandes grupos empresariais, verdadeiras corporações que atuam na educação superior. Isso fez com que as tradicionais Instituições Educacionais Superiores privadas, muitas que operam no Brasil há várias décadas, como é o caso das Instituições Confessionais, Comunitárias e Fundacionais, sentissem os efeitos desse novo ambiente educacional. Essas Instituições, a exemplo da USF, buscam a rentabilidade financeira nas suas operações, para serem sustentáveis economicamente; porém, essa busca é um meio e não um fim, pois sua finalidade, o objetivo de sua existência, é promover uma educação de qualidade. Entretanto, no geral, é certo que a expansão de ingressantes no ensino superior privado, e também em certa medida nas instituições públicas, fez com que um número maior de alunos provenientes de um ensino fundamental e médio com grande déficit de formação, chegasse às Instituições Superiores com enormes dificuldades para trabalhar e assimilar esse nível de formação. Essa situação deverá persistir por anos, mesmo porque o Brasil ainda não implementou uma política séria para solucionar os problemas do ensino fundamental e médio. Portanto, as Instituições Superiores comprometidas com o ensino de qualidade, a exemplo da USF, têm feito sua parte, mas a grande melhoria de qualidade do ensino superior virá na medida em que no estágio anterior de ensino sejam implementados projetos que concretamente possibilitem melhoria de qualidade.

Comunicações - Muitos educadores afirmam que o Reuni, criado em 2007, promoveu a expansão do acesso ao ensino superior sem garantir a qualidade e a permanência dos alunos. O senhor concorda?
Professor Joel - O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) foi instituído com o propósito de ampliar o acesso e a permanência na educação superior pública, com a meta de dobrar o número de alunos nos cursos de graduação até 2017. Para atingir essa meta, dentre outras medidas foram criadas novas universidades e aumento de vagas e criação de novos cursos em Universidades Federais já existentes. Porém, o que se viu e ainda se vê pelo Brasil, inclusive pelos estudos e críticas de diversos pesquisadores, e por diversas denúncias de alunos e da mídia, são campus funcionando sem a indispensável estrutura de apoio acadêmico (bibliotecas, laboratórios, refeitórios, residências estudantis), turmas funcionando em locais improvisados e disciplinas sem professores. Ao que parece, a lógica dessa política de expansão foi primeiro aumentar o número de vagas e depois buscar as soluções para propiciar as condições necessárias. Portanto, a despeito de promover a expansão numérica do acesso ao ensino superior pelo aumento formal de vagas, a qualidade e a permanência dos alunos não foi garantida, em razão da falta de conjugação dessa expansão formal com a implementação de medidas concretas e a tempo, para dotar os campi novos e os antigos das estruturas físicas e acadêmicas necessárias.

Comunicações - Que cenários o sr. vê para a educação no Brasil?
Professor Joel - O único cenário para a educação no Brasil que gostaria de presenciar – pois dele depende o futuro promissor do país – é o que decorre de um profundo compromisso com o ensino fundamental e médio, um verdadeiro pacto de estado e não apenas de governantes de ocasião, para que a formação nesses níveis sofra uma revolução positiva. Não podemos mais conviver com o fato de que temos 14 milhões de analfabetos, mais que na Etiópia, Nigéria e Bangladesh; nossa taxa de reprovação é de 21,2%, perdendo para o Haiti, Uganda, Namíbia e Senegal; de cada 10 alunos da 1ª série do ensino fundamental, somente 6 chegam à oitava série e apenas 4 concluem o ensino médio. Esse pacto necessariamente envolverá também o ensino superior, na medida em que ele tem a incumbência de formar os professores que irão atuar nos estágios anteriores da educação. Se essa deficiência não for corrigida, e logo, o cenário futuro da educação não será melhor, pelo menos em termos de qualidade.

Comunicações - Qual a sua opinião sobre os cursos a distância? Acredita que têm o mesmo valor que os presenciais?
Professor Joel - Penso que os Cursos a Distância vieram para ficar, mesmo porque a criação dessa modalidade é consequência natural da evolução tecnológica, permitindo que a relação aluno-professor ocorra com o auxílio de ferramentas online, disponibilizadas pela Instituição que oferta o curso. O Curso a Distância tem o mesmo valor formal que os cursos presenciais, ou seja, a certificação tem o mesmo valor. Porém, quanto à formação acadêmica de fato, é preciso avaliar não apenas as condições do aluno que faz o curso a distância – muitos não estão preparados para essa modalidade – mas também se o curso está estruturado de acordo com as características próprias dessa modalidade; avaliar se o projeto pedagógico, os conteúdos e a metodologia estão construídos de acordo com os requisitos que propiciam o efetivo aprendizado. O Curso a Distância deve ser construído como tal, pois não basta simplesmente transportar o curso presencial para a modalidade à distância.

Comunicações - Sua vida esteve sempre ligada ao universo da educação?
Professor Joel - Posso dizer que sim, pois logo que concluí o Curso de Direito iniciei, concomitantemente, a atividade de advogado e de professor universitário. Porém, desde 1974 – portanto bem antes de e durante o tempo em que estive no Curso de Direito – atuei como escrevente e Diretor de Ofício Judicial no Poder Judiciário do Estado de São Paulo.

Comunicações - Qual a sua formação? Como começou a sua vida acadêmica? Conte-nos um pouco de sua história de vida.
Professor Joel - Tenho formação na área jurídica, com mestrado em Direito Empresarial. Minha vida acadêmica começou na Universidade São Francisco em março de 1987; portanto, há 30 anos. Iniciei como professor do Curso de Direito do campus Bragança Paulista; posteriormente fui Coordenador desse Curso. No ano de 2006 assumi a Direção do Campus Bragança Paulista. Em 2010 fui nomeado Vice-Reitor, e desde março de 2015 estou na condição de Reitor da Universidade São Francisco. Sou casado com Lúcia e tenho dois filhos, Joel Neto e Juliana, ambos casados. Tenho cinco netos, Ana Luísa, Isabel, Efraim, Mariana e Eduardo. Quando iniciei a atividade como professor na USF, tinha dois filhos muito pequenos; hoje, após 30 anos e ainda na USF, tenho cinco netos, a primeira com oito anos e o último – pelo menos até agora – com um ano. Posso dizer que a USF faz parte da minha história de vida.

Comunicações -
Qual o maior desafio de um reitor de uma universidade?
Professor Joel - A despeito de serem inúmeros os desafios de um reitor na gestão universitária, vou concentrar a resposta exatamente na pergunta – qual o maior desafio? Sendo reitor de uma Universidade Comunitária, Confessional e privada, penso que o maior desafio é ser e se manter como Universidade. O conceito de Universidade adotado no Brasil usa referenciais das universidades de pesquisa, e não de uma Instituição de Educação Superior categorizada como Faculdade ou Centro Universitário, em que o objetivo preponderante é a formação profissional dos alunos. Em razão disso, para cumprir a lei, as Universidades devem possuir um terço de professores em regime de tempo integral, com titulação e doutorado. Devem, também, manter pós-graduação stricto sensu, que compreende programas de mestrado e doutorado em quantidade prevista na legislação. O cumprimento e manutenção dessas condições legais para ser e se manter como universidade, exigem altos custos financeiros que, nas universidades privadas, são cobertos pelas mensalidades pagas pelos alunos; daí porque é cada vez mais importante que os programas de stricto sensu também tenham projetos de pesquisa com relevância e potencial de gerar receitas. Por outro lado, o gozo da autonomia universitária prevista na Constituição Federal (artigo 207) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394, art. 53) – que seria um importante efeito positivo do status universitário – vem sendo limitado ao longo do tempo. Estas são algumas das razões pelas quais penso que o maior desafio é ser e se manter Universidade.

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